As artes têm uma longa história de diálogo com acontecimentos trágicos. Num cálculo pouco sistemático, pragas, pestes, epidemias e pandemias ocupam um honroso segundo lugar. Em primeiro, vêm as guerras, com seus enredos épicos e dramáticos, que mobilizaram de nomes históricos, como Homero e Goya, a artistas modernos e contemporâneos, como Picasso e o múltiplo Tony Conrad. Em tempos de Covid-19, a relação da arte com estes temas trágicos ganha uma relevância autoexplicativa. Por isso mesmo, tratar do tema implica no desafio de fugir ao que vem sendo repetido na miríade de lives, artigos e vídeos em redes sociais, que abordam o assunto a partir de um percurso sempre muito parecido.

São nomes unânimes, entre artistas mais e menos conhecidos, como Tintoretto, Bruegel e Bocklin (que pintaram obras relacionadas à Peste Negra), ou Klimt e Munch (que pintaram obras relacionadas à gripe espanhola). A arte contemporânea também se engajou em aproximações com pestes, pragas, epidemias e pandemias (Sars, Aids e a própria Covid-19). A dimensão mais figurativa ainda aparece, mesmo que reconfigurada pelas inquietações com materiais e procedimentos múltiplos que marca a arte posterior ao período das vanguardas históricas. Também surgem práticas com o uso de substâncias orgânicas e fluidas, como o sangue, que se relaciona com as pragas e pandemias de forma metonímica. Isto é típico de uma virada que acontece de forma gradual, do século 17, quando artistas como Vermeer e Velázquez começam a fraturar os limites da tela, ao século 20, quando artistas como Marcel Duchamp ou Robert Smithson usam objetos ou o próprio espaço construído como materiais. A arte deixa de lado a representação das coisas, para trabalhar com as coisas propriamente ditas.

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