De facto, o que queremos dizer é qtIe o capitalismo, no seu processo de produção, produz uma formidável carga esquizofrênica sobre a qual faz incidir todo o peso da sua repressão, mas que não deixa de se reproduzir como limite do processo. Porque o capitalismo nunca pára de contrariar e de inibir a sua tendência, sem deixar, no entanto, de se preci- pitar nela; não pára de afastar o seu limite sem deixar ao mesmo tempo de tender para ele. O capitalismo instaura ou restauta todos os tipos de territorialidades residuais e factícias, imaginárias ou simbólicas, sobre as quais tenta, o melhor que pode, recodificar e fixar as pessoas derivadas das quantidades abstractas. Tudo volta a aparecer – os Estados, as pátrias, as famílias. E é isto que torna o capita- lismo, na sua ideologia, «a pintura matizada de tudo aquilo em que se acreditou». O real não é impossível, o que é, é cada vez mais artificial.

Deleuze, Anti-Édipo