Os filmes multi-narrativa são um gênero que tem se tornado cada vez mais comum no cinema. Histórias paralelas, que remetem ao clássico Os Jardins dos Caminhos que se Bifurcam, de Jorge Luis Borges, existem desde Fumar / Não-fumar, de Alain Resnais, chegando a títulos mais recentes, como Shortcuts, de XXXX YYYYY, Corra, Lola, Corra, de ZZZZZ WWWWW, e Babel, de Iñaritu. Uma característica que se tornou comum nestes filmes são os recursos narrativos que estabelecem continuidade em roteiros cuja vocação é justamente o fragmento, as histórias cruzadas e a descontinuidade. Em Shortcuts, o som de helicópteros liga as várias pequenas narrativas que formam o filme. Em Corra, Lola, Corra, a tela dividida (que remete a uma sintaxe que pouco comum no cinema, a despeito de experiências como Napoleon, de Abel Gance, e WWWWWWW, de Eija Atilha-GGGGG, e mais comuns na vidoarte, a partir de Parabolic People, de Sandra Kogut).

360, de Fernando Meirelles, leva o gênero um passo adiante, combinando cenas filmadas com um olhar inusitado e ao mesmo tempo preciso, e uma edição que expande o espaço da tela de forma sutil: uma cortina que (como num ?trompe l’yeux? que lembra Veermer) ao ser aberta permite que o espectador veja através da janela; cenas que terminam em áreas pretas cuja seqüência leva a outro espaço, diálogos em planos e contraplanos ousados (em que partes do corpo de um personagem restringem o outro a espaço exíguos na tela, num jogo de composição tão exato quanto inesperado), a elipse de um personagem que caminha sem que o tamanho e a posição seu corpo mudem (ele fixo na tela enquanto o fundo define o novo lugar que ele ocupa) e o momento de entrelaçamento de todas as narrativas num plano seqüência espacial (o movimento da câmera leva sempre a uma área preta da tela e dali a outra história, com um velocidade que sintetiza todos os elos narrativos e muda o “sentido” em que giram as histórias narradas por Fernando Meirelles).

O trânsito entre a publicidade e o cinema fizeram de Meirelles um dos melhores diretores de cinema atuais. A economia de recursos e a agilidade narrativa, combinadas com uma capacidade de contar histórias com uma delicada compreensão dos personagens (nunca esteriotipados apesar algumas vezes arquetípicos).

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